Sucateamento do Transporte Público Carioca gerou, pelo menos, 5 mortes em 2023

Por José Roberto Medeiros

Mais uma pessoa foi vítima do péssimo estado dos ônibus BRT no Rio de Janeiro. Apresentado como solução pelo Prefeito Eduardo Paes em seu mandato olímpico, o sistema BRT saiu da euforia de uma possível maior integração da Zona Oeste com outras áreas da cidade para o desalento de estações fechadas, ônibus sucateados e uma longa lista de acidentes.

A vítima da vez foi o jovem Douglas Vianna Falcão, de 22 anos, que morreu na hora após cair de um ônibus no corredor BRT Transoeste entre as estações Pingo D’Água e Mato Alto, no bairro de Guaratiba. A porta do veículo estava aberta para “arejar” a condução superlotada, segundo passageiros.

Douglas é pelo menos a quinta vítima do sucateamento do transporte público carioca. Marcos Vinícius Rodrigues, de 15 anos, faleceu em abril desse ano após colidir com um poste enquanto viajava pendurado em um BRT. No começo desse mês, a  jovem Thalita Fragga, de 18 anos, foi lançada para fora do BRT em que viajava quando a porta se abriu sozinha na altura da estação Magarça.

Viajar de ônibus no Rio de Janeiro, no entanto, não é apenas risco de vida para quem usa o BRT. A frota regular também convive com carros em péssimo estado e condutas que colocam a vida de seus trabalhadores e passageiros em risco. Juliane Campelo, de 31 anos, morreu em março desse ano após ser arremessada, em uma curva, para fora de um ônibus do Metrô na Superfície no bairro da Gávea. A cadeirante Bernadete dos Santos faleceu após ser jogada para fora de um ônibus da linha 209, numa curva, no bairro do Caju.

FALTA DE CONSERVAÇÃO E VANDALISMO: DILEMAS DA FROTA BRT

Os acidentes não acontecem à toa. O degradante estado de quase todos os modais do transporte público do Rio de Janeiro é notório e constantemente noticiado. Segundo a MOBI-RIO (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), por dia, a frota BRT tem 30 portas de ônibus e 5 alçapões quebrados. 

Os veículos viajam a alta velocidade com portas abertas e completamente lotados. Motoristas que tentam coibir a abertura das portas tem sua integridade em risco e os programas anunciados para evitar o vandalismo e viagens em condições de perigo não apresentaram nenhuma mudança na realidade de quem usa o modal.

Além das portas, os veículos enfrentam outros problemas estruturais com falta de manutenção adequada. Na mesma pista em que o jovem Douglas faleceu hoje, outra composição apresentou problemas e deixou seus passageiros a pé, tendo que caminhar na via até a próxima estação.

IMPRUDÊNCIA E FALTA DE FISCALIZAÇÃO COMPLEMENTAM CENÁRIO DE FILME DE TERROR

Além de ter que conviver com os riscos internos, viajar de BRT também gera preocupações com riscos externos. Sucessivas infrações de veículos a passeio na pista exclusiva tem um histórico recente e perigoso de acidentes. Desde janeiro de 2022, segundo a MOBI-RIO, foram 225 acidentes causados por automóveis que invadiram a pista exclusiva dos articulados. Os pedestres também contribuem para o cenário caótico do modal, ignorando os riscos e atravessando na pista de alta velocidade.

Os dados do Corpo de Bombeiros apontam que, em 2022, ocorreram 87 colisões e 44 atropelamentos com envolvimento de BRTs, uma média de 7 batidas e 4 atropelamentos por mês. Esse ano, até fevereiro, já haviam sido registrados 15 colisões e 16 atropelamentos. Números mais recentes ainda não foram divulgados.