Por que estado do Rio possui a maior taxa de mortalidade por tuberculose do país?

Especialistas afirmam que o dado reflete uma complexa situação socioeconômica da população fluminense

O estado do Rio de Janeiro tem a maior taxa de mortalidade por tuberculose, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Só em 2022, o coeficiente foi de cinco mortes a cada 100 mil habitantes e a taxa de incidência de 68,6 casos a cada 100 mil habitantes, números alarmantes considerando a dimensão territorial do estado. Especialistas acreditam que isso reflete uma complexa situação socioeconômica dos moradores.

A gerente de tuberculose da Secretaria de Estado de Saúde do Rio, Marneili Martins, explica que existem muitos pontos que contribuem para o avanço da doença, mas que o primeiro é a vulnerabilidade social.

“Nós temos uma densidade populacional no estado do Rio bem complicada e isso favorece e aumenta o risco da doença em comunidades. Esse é um fator muito grave que sozinhos, nós profissionais de saúde, não conseguimos resolver. A gente precisa do apoio da sociedade civil, apoio intersetorial, a gente precisa da educação, da habitação, um conjunto de secretarias para nos ajudar”.

Segundo Marneili, é necessário que políticas públicas de saúde sejam construídas para garantir que as pessoas sejam diagnosticadas logo no início dos sintomas.

“Quando ninguém identifica esse caso lá na ponta eles chegam aos nossos hospitais, onde não era para chegar, não era para estar em hospital. Então ele acaba chegando grave, achando que tem uma pneumonia, mas já está há meses com aqueles sintomas e só vai ser identificado em uma emergência”, explica.

Já o médico de família e comunidade, Eberhart Portocarrero Gross, que trabalha na clínica da família na Rocinha, bairro da zona sul do Rio, explica que as condições de moradia influenciam bastante no risco de contaminação pela tuberculose.

“Não quer dizer que uma pessoa rica não possa ter tuberculose, mas quer dizer que ela cresce em lugares pouco ventilados, lugares com muitas pessoas no mesmo cômodo. Se a gente não for olhar pra urbanismo, pensar na ventilação das casas, se a gente não for olhar pra educação para que as pessoas entendam a necessidade do tratamento, se a gente não for olhar para as condições econômicas, condições de sustento, familiares, essas coisas vão somando e dificultando um tratamento que por si já é complicado”, diz o médico.

Para Eberhart, existe falta de vontade dos órgãos responsáveis em promover mais estudos para diminuir o tempo de tratamento da tuberculose. Ele explica que por ser muito longo com uma média de seis meses tomando antibióticos, muitas pessoas acabam interrompendo na metade.

“Existe chance que ele seja diminuído, existem pesquisas dizendo que tratamentos de tuberculose alcançariam a cura em 4 meses, 3 meses, mas essas pesquisas avançam muito lentamente porque o peso social, o grau de investimento financeiro e de implicação política acaba não sendo tão grande quanto para outras coisas”.

A busca por parcerias entre órgãos governamentais, organizações não governamentais e a sociedade civil é essencial para a implementação de políticas eficazes e sustentáveis de combate à tuberculose no estado. O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), André Pereira Neto, aponta para um outro fator que contribui para o aumento da doença no estado: informações erradas sobre a quantidade de semanas de tosse que o paciente precisa esperar para procurar o médico.

“Uma informação de qualidade salva vidas, ou pode salvar vidas ou pode evitar a morte. O site do Ministério da Saúde e das Secretarias de Saúde do Brasil insistem em divulgar que são três semanas, quando na verdade são duas semanas e na verdade o que a OMS diz é que não é apenas a tosse e sim um conjunto de outros sintomas, essa informação é fundamental. Para mim, uma das coisas que levam a esse grande número de pessoas com tuberculose no Brasil e sobretudo no Rio de Janeiro é que a informação e comunicação para as secretarias de saúde e para o ministério é uma coisa menor”, finaliza.

O protocolo divulgado pelo Ministério da Saúde explica que a duração da tosse para identificação da doença “leva em consideração o risco de adoecimento e o acesso da população aos cuidados, privilegiando muitas vezes a oportunidade de se fazer o exame diagnóstico em detrimento do tempo da tosse”.

Fonte: Brasil de fato

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