Maduro convoca embaixador e critica diplomacia brasileira

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está avaliando a recente escalada de tensões diplomáticas com a Venezuela, desencadeada por ações e declarações do governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Segundo fontes diplomáticas brasileiras, a crise parece ser impulsionada unilateralmente pelo governo Maduro, que, apesar de ataques à figura do presidente Lula e ao Itamaraty, não provocou até o momento uma resposta pública do governo brasileiro.

Autoridades do Planalto e do Ministério das Relações Exteriores consideram que a postura de silêncio estratégico deve ser mantida para preservar o diálogo com Maduro e a oposição venezuelana.

Na quarta-feira (30), a Venezuela convocou seu embaixador no Brasil para consultas e chamou o encarregado de negócios brasileiro em Caracas, citando “declarações intervencionistas” do governo brasileiro, conforme comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano.

Essa medida ocorre em um momento de visível insatisfação do governo Maduro após o veto informal do Brasil à entrada da Venezuela no grupo BRICS.

Maduro já havia expressado sua discordância com a decisão, e o comunicado venezuelano incluiu críticas diretas a Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais do Planalto, chamando-o de “mensageiro do imperialismo norte-americano” e acusando-o de interferir em questões internas da Venezuela.

Celso Amorim, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados na terça-feira (29), destacou a estratégia de “interlocução” adotada pelo Brasil, enfatizando a importância de uma postura moderada no relacionamento com a Venezuela.

Amorim reconheceu o aumento das tensões bilaterais após as recentes eleições presidenciais venezuelanas e defendeu que o Brasil continue atuando como um canal de diálogo, ainda que a intensidade das relações tenha diminuído desde as eleições.

“Se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], precisamos manter uma interlocução. Estamos mantendo uma interlocução, mas o nível dela diminuiu desde a eleição”, declarou Amorim, ressaltando a importância de manter um canal de comunicação ativo apesar das tensões diplomáticas.

O anúncio da vitória de Maduro nas eleições de 28 de julho, declarado pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, intensificou o desconforto diplomático.

A oposição venezuelana contestou o resultado, alegando vitória de Edmundo González, que teria fugido para a Espanha para evitar prisão, fato que contribuiu para o aumento das incertezas nas relações entre os países.

A crise eleitoral na Venezuela ampliou a divisão entre o governo Maduro e a oposição e teve repercussões nas relações com o Brasil.

Na segunda-feira, Maduro intensificou suas críticas ao Brasil em seu programa semanal de televisão, acusando o Itamaraty de agir como um “poder dentro do poder” e de conspirar contra a Venezuela.

Maduro afirmou que a diplomacia brasileira, segundo ele, teria ligações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, traçando um paralelo com a suposta interferência norte-americana durante o golpe contra o presidente brasileiro João Goulart, em 1964.

A questão da entrada da Venezuela no BRICS tem sido um ponto sensível no relacionamento bilateral. A decisão de não incluir a Venezuela no bloco econômico foi vista com descontentamento por Maduro.

Segundo um embaixador brasileiro que preferiu não ser identificado, “doeu o Brics, e eles [os venezuelanos] não sabem disfarçar”.

Na audiência pública, ao ser questionado sobre o tema, Amorim reafirmou que, neste momento, a entrada da Venezuela no BRICS não seria benéfica para a dinâmica do grupo, o que aprofundou as reações negativas de Caracas.

A crise atual representa um teste para a diplomacia brasileira, que busca manter canais de comunicação com o governo Maduro enquanto lida com um ambiente de crescente polarização política na Venezuela.

O Planalto e o Itamaraty seguem monitorando os desdobramentos, optando pelo silêncio como estratégia para manter o papel de mediador no cenário político venezuelano e preservar a possibilidade de diálogo com todas as partes envolvidas.

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