Mulheres Negras protagonizam marcha histórica em copacabana

Neste último domingo (30), a icônica orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, foi palco de uma emocionante e significativa manifestação: a 9ª Marcha das Mulheres Negras. Vindas de diversas regiões do estado, as mulheres negras uniram-se em prol de uma luta comum: o combate ao racismo, toda forma de opressão, violência e a busca por uma vida digna.

Sob a liderança do Fórum Estadual de Mulheres Negras – RJ, essa marcha, que marca o encerramento da semana de mobilização pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), acontece na véspera do Dia Internacional da Mulher Africana (31 de julho).

A escritora e ativista Maria da Conceição Evaristo, cuja produção literária é uma poderosa arma contra a opressão do povo negro, fez a leitura do manifesto de abertura da marcha. Em frente a milhares de mulheres negras, ela destacou a importância do ato corajoso e denunciante de ocupar uma das praias mais famosas do Brasil.

“Marchamos pelo bem viver. O bem viver convoca a uma política de participação coletiva da população negra, de construção de poder horizontal e de distribuição dos lugares de decisão para mulheres negras”, completou a escritora, que recentemente inaugurou um centro cultural na região conhecida como Pequena África, no Rio de Janeiro.

A presença dos “griôs”, contadoras de histórias respeitadas em suas comunidades, também foi marcante na abertura da marcha, onde cerca de dez delas carregavam uma faixa com o tema do evento deste ano.

A juventude também teve espaço na manifestação, com destaque para Alia Terra, de apenas 10 anos, que emocionou a todos com suas palavras de coragem e resistência contra a violência e o racismo.

Com um percurso pela orla de Copacabana, as participantes da marcha erguiam faixas, cartazes e placas com retratos de mulheres negras que lutaram e ainda lutam pela defesa, respeito e empoderamento da população preta, incluindo personalidades como Carolina Maria de Jesus, Elza Soares, Lélia Gonzalez, Tereza de Benguela e Marielle Franco, a vereadora assassinada em 2018.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, participou do ato, ressaltando a importância da presença feminina negra no espaço público e o desafio em manter-se na luta, considerando o perigo que as mulheres negras enfrentam diariamente.

Destacando a importância das eleições municipais, Clatia Vieira, uma das organizadoras da marcha, defendeu a maior representatividade das mulheres negras na política e expressou o desejo de ver uma negra ocupando a próxima vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal.

Apesar das celebrações e da união de forças, a marcha não se desvinculou dos desafios enfrentados pela mulher negra no Brasil. As estatísticas apontam que são 67% das vítimas de feminicídios, 89% das vítimas de violência sexual e enfrentam altos índices de desemprego.

A marcha também abordou temas além do combate ao racismo, abraçando lutas relacionadas à soberania alimentar da população negra, mostrando que as questões são interligadas e necessitam de uma abordagem ampla e inclusiva.

Para preservar e transmitir a importância da luta antirracista, algumas mulheres levaram suas crianças à marcha, buscando formar uma nova geração consciente das raízes da resistência.

As datas comemorativas do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e do Dia Internacional da Mulher Africana ganham ainda mais significado com esse poderoso movimento de mulheres negras que marcham e resistem em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. A esperança de mudanças reais permanece firme, enquanto elas continuam a escrever sua história de empoderamento e luta contra todas as formas de discriminação e opressão.

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