Linha Amarela registra salto recorde de assaltos em 2025
A escalada da violência na Linha Amarela expõe a rotina de quem enfrenta o risco para chegar ao trabalho — e volta para casa rezando por segurança
O medo voltou a tomar conta de quem precisa trafegar diariamente pela Linha Amarela, uma das principais vias expressas do Rio de Janeiro. Segundo dados divulgados pela Lamsa, concessionária responsável pela administração da estrada, o número de ocorrências policiais registradas até outubro de 2025 chegou a 438 — mais que o dobro dos 199 casos registrados em todo o ano passado. Em 2023, o número era bem menor: apenas 79 registros.
O levantamento da concessionária revela uma escalada preocupante na violência. As ocorrências incluem assaltos, furtos, arrastões, trocas de tiros, blitzes e abordagens policiais. A saída 4, localizada em Pilares, na Zona Norte da cidade, é apontada como o ponto mais crítico da via.
“Pareciam crianças”, diz vítima de assalto
Entre as vítimas dessa onda de crimes está o servidor público Rogério Faria de Souza, que foi atacado em julho, enquanto passava pela via expressa. O relato dele impressiona pela frieza dos criminosos e pela aparente pouca idade dos assaltantes.
“Fui assaltado na saída 4 da Linha Amarela, onde dois indivíduos — para mim eram crianças de no máximo 15, 16 anos — me cortaram com uma faca e levaram meu carro e celular”, contou. O crime ocorreu em Pilares, e o relato de Rogério não é isolado.
Em setembro, um vídeo gravado de dentro de um carro mostrou mais uma ação de criminosos no mesmo ponto, reforçando o clima de insegurança. Já na noite de 26 de outubro, um domingo, a Linha Amarela se transformou em cenário de guerra: um tiroteio levou à interdição da pista por horas. Imagens feitas por moradores de um apartamento mostravam a operação policial em andamento após o confronto. Pouco antes, um carro havia sido roubado também na saída 4.
Cinco dias depois, o desfecho foi trágico. Bárbara Elisa Yabeta Borges, de 28 anos, passageira de um carro por aplicativo, foi baleada na cabeça durante um confronto entre criminosos. Ela não resistiu aos ferimentos, tornando-se símbolo do medo que hoje domina a região.
Moradores mudam rotas e vivem em alerta constante
Quem mora ou trabalha nas proximidades da Linha Amarela diz viver em estado de tensão. Um morador do Grande Méier, que preferiu não se identificar por medo de represálias, relatou um episódio assustador:
“Passei pela Linha Amarela com minha família e me deparei com um carro com vários assaltantes de fuzil. Para eles tanto faz viver ou morrer, por um carro e alguns reais.”
Motoristas têm evitado ao máximo o trajeto. O fotógrafo Eduardo Chianca, que precisa usar a via para chegar ao trabalho, resume o sentimento de muitos: “É um cenário de guerra. Como trabalho para lá, tento sempre evitar o trajeto.”
O engenheiro Tarsicio Vieira confirma que mudou sua rotina por medo. “Chega uma parte da noite que eu evito passar ali. Vou pela saída 5, porque passar ali é quase certo de ter assalto.”
O que diz a Polícia Militar
Em nota, a Polícia Militar informou que as vias expressas do Rio contam com patrulhamento permanente do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE), com equipes atuando 24 horas por dia, além do apoio de outras unidades especializadas, como as Rondas Especiais, o Controle de Multidões e o Batalhão Tático de Motociclistas.
A corporação afirmou ainda que pretende ampliar o sistema de videomonitoramento e reconhecimento facial, como parte de um plano para reforçar a segurança nas principais vias expressas da cidade, incluindo a Linha Amarela.
Enquanto isso, motoristas e moradores seguem tentando driblar o medo e as estatísticas, em um cenário que, para muitos, já ultrapassou o limite do tolerável. A via que deveria representar agilidade e conexão entre zonas da cidade se transformou, mais uma vez, em sinônimo de perigo e incerteza.
