Investimento no Master pressiona gestão da Cedae

Cedae aplicou R$ 200 milhões no Banco Master, agora sob intervenção; TCE-RJ acompanha o caso


A crise envolvendo o Banco Master, alvo de uma operação da Polícia Federal e colocado sob intervenção do Banco Central, começa a atingir outras estruturas do Estado do Rio de Janeiro. Depois da revelação de que o Rioprevidência aportou valores bilionários na instituição financeira, agora vem à tona que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) também aplicou recursos significativos no banco.

Segundo a própria estatal, em outubro de 2023 foram investidos R$ 200 milhões em produtos do Master. A Cedae afirma que a operação seguiu rigorosamente suas “políticas de investimento, governança e compliance”, e que o aporte teve autorização formal do Conselho de Administração. O g1 apurou que a aplicação entrou na mira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), que já analisa os documentos e a regularidade da operação.

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Intervenção e prisão de executivos

A situação do banco se agravou nesta terça-feira (18), quando o Banco Central decretou regime de administração especial temporária por 120 dias e também a liquidação do conglomerado. A decisão veio horas depois da prisão do presidente da instituição, Daniel Vorcaro, detido pela Polícia Federal na noite de segunda-feira (17), no momento em que tentava deixar o país.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que as suspeitas que recaem sobre a cúpula do banco apontam para um esquema de fraudes financeiras que pode alcançar até R$ 12 bilhões — um rombo de proporção suficiente para provocar ondas em diferentes áreas da administração pública.

Aplicações e riscos: advertência na Alerj

O caso da Cedae também ecoou na Assembleia Legislativa do Rio. De acordo com o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSD), a companhia teria aplicado mais de R$ 218 milhões em CDBs do Banco Master, apostando em títulos classificados como de “alta liquidez e baixo risco”. Para ele, os rendimentos oferecidos — cerca de 130% do CDI — destoavam do padrão de mercado e pareciam insustentáveis.

“Não resta dúvida de que essa operação da PF vai dar grandes desdobramentos, quiçá no próprio Estado do Rio de Janeiro e nessas instituições que estão jogando dinheiro do aposentado e pensionista no ralo, porque corre o risco de virar pó”, afirmou o parlamentar.

O alerta se refere ao fato de que o Rioprevidência, fundo responsável por pagar aposentadorias e pensões a 235 mil servidores inativos, também havia aplicado valores expressivos em fundos ligados ao Master entre 2024 e 2025 — motivado pelas “taxas consideradas mais atrativas” que as oferecidas por concorrentes.

Cedae defende aplicação e diz que já havia iniciado resgate

Em nota, a companhia reforçou que o retorno financeiro “foi bastante elevado para os padrões do mercado financeiro” e que a política de investimentos adotada em 2022 foi determinante para garantir resultados positivos nos três últimos exercícios.

A empresa também informou que começou a retirar o dinheiro aplicado quando o Banco Master teve sua nota de crédito rebaixada. “A Cedae iniciou o resgate da aplicação, após o Banco Master sofrer rebaixamento do grau de investimento, sendo desenquadrado da política de investimento da Cedae”, afirmou.

Segundo a estatal, até a última segunda-feira (17) o banco vinha honrando seus compromissos. Porém, diante do primeiro atraso ocorrido já sob intervenção, a companhia comunicou o fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e informou que fará publicação no Diário Oficial. Agora, aguarda o desenrolar dos acontecimentos para “tomar as medidas jurídicas necessárias”.

Repetição de um padrão

O deputado Luiz Paulo apontou semelhanças entre o caso da Cedae e o do Rioprevidência, que também se tornou alvo do TCE-RJ pela relação com o mesmo banco. “Isso aconteceu também com a Cedae, a nossa empresa produtora de água, que comprou mais de R$ 200 milhões de CDB do Banco Master. CDBs que estavam pagando aproximadamente 130% do CDI. Era um valor que parecia até uma pirâmide, dificilmente alguém conseguiria honrar”, declarou.

Com a queda do banco e a prisão de seus executivos, o agora desmontado conglomerado financeiro se transforma em peça central de uma investigação que deve ter impacto duradouro sobre a administração pública fluminense — e sobre a gestão de recursos públicos aplicados sob a promessa de retornos extraordinários.

Com informações de g1*

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