Fundos do Rioprevidência avançam sob intervenção federal
Rioprevidência resgata R$ 560 milhões antes da liquidação do Banco Master e garante pagamentos de fim de ano
O Rioprevidência deve receber, nos próximos dias, um reforço de R$ 560 milhões provenientes de um fundo administrado pela corretora ligada ao Banco Master. O valor faz parte de um resgate iniciado antes de o Banco Central decretar a liquidação da instituição financeira e da prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, o que colocou o mercado em alerta sobre a segurança dos investimentos públicos.
A medida foi tomada para assegurar que aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro recebam em dia tanto a folha de novembro quanto a segunda parcela do 13º salário, prevista para ser quitada em dezembro. Atualmente, o estado possui 242 mil beneficiários, cuja folha mensal chega a R$ 1,9 bilhão.
Mesmo com o início da intervenção no Banco Master, o Rioprevidência segue com recursos aplicados em outros dois fundos administrados pela mesma corretora. Uma nota oficial divulgada na terça-feira (18) afirmou que o “pagamento dos aposentados não está comprometido”, reforçando que não há risco imediato para os segurados.
Operações antecipadas evitaram crise no fim do ano
Fontes ouvidas pelo g1 detalharam que uma série de manobras financeiras foi colocada em curso ao longo dos últimos meses justamente para garantir o pagamento integral da folha de fim de ano. A primeira providência foi desmontar o fundo Arena, um dos três que compunham a carteira do Rioprev na corretora do Master.
Esse fundo, de renda fixa atrelada a títulos públicos federais, chegou a ter R$ 1,1 bilhão em maio. Parte desse recurso foi recuperada, e agora os R$ 560 milhões restantes entrarão no caixa do instituto assim que o resgate for concluído, o que deve ocorrer na próxima semana.
Para complementar o caixa e assegurar o pagamento da folha de dezembro, a Secretaria Estadual de Fazenda deve repassar R$ 1,1 bilhão, provenientes dos royalties do petróleo. Desde janeiro de 2025, esses valores deixaram de entrar automaticamente no Rioprevidência: agora, o repasse é feito primeiro ao Banco do Brasil, segue para a Fazenda e, só depois, é destinado ao instituto, conforme a demanda mensal.
Fundos sob pressão no meio da crise do Banco Master
A movimentação ocorre em meio às operações da Polícia Federal no Banco Master. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) havia apontado, desde maio, que o Rioprevidência teria R$ 2,6 bilhões investidos em produtos do banco — valor que, segundo o próprio instituto, não corresponde à realidade. O órgão afirma ter aplicado R$ 960 milhões em Letras Financeiras emitidas entre 2023 e 2024.
Com a liquidação do banco, ficaram suspensas negociações que estavam em andamento, como a troca dessas letras financeiras por precatórios federais. Agora, qualquer avanço dependerá de conversas com o interventor designado pelo Banco Central.
Após o resgate do fundo Arena, permanecem investidos no Master dois outros fundos escolhidos pelos gestores:
Fundo Revolution
- Valor total: R$ 4,8 bilhões
- Parcela do Rioprevidência: pouco mais de R$ 400 milhões
- Composição: títulos públicos, crédito privado, terrenos, shoppings e R$ 80 milhões aplicados em CDBs do Master
- Situação: antes mesmo da liquidação, a gestora havia iniciado o processo de migração para outro banco administrador.
Fundo Texas
- Parcela do Rioprevidência: R$ 150 milhões
- Tipo: fundo previdenciário com resgates previstos apenas para 2033 e 2034
- Composição: 100% das aplicações em ações da Ambipar
- Contexto: a empresa, especializada em gestão de resíduos e projetos ambientais, entrou com pedido de recuperação judicial em 20 de outubro, elevando o nível de preocupação dos cotistas.
Resposta do Rioprevidência
Em nota, o instituto contestou a informação de que teria investido mais de R$ 2,6 bilhões no Banco Master. O órgão declarou:
“O Rioprevidência informa que é inverídica a informação de que o Banco Master seria destinatário de mais de R$ 2,6 bilhões em investimentos pela autarquia. O valor efetivamente aplicado pelo órgão foi de aproximadamente R$ 960 milhões, em Letras Financeiras emitidas pela instituição entre outubro de 2023 e agosto de 2024, com vencimentos previstos para 2033 e 2034. Atualmente, a autarquia está em negociação para substituir as letras por precatórios federais.
O Rioprevidência ressalta ainda que o pagamento de aposentadorias e pensões está garantido, não havendo qualquer risco para os segurados do Estado do Rio de Janeiro. Cabe destacar ainda que o valor investido junto à instituição é inferior ao da folha mensal paga pela autarquia aos aposentados e pensionistas, hoje em R$ 1,9 bilhão, custeada em grande parte pela receita de royalties e participações especiais.
O montante relativo ao investimento que vem sendo equivocadamente veiculado se deve a um cálculo feito pelo TCE-RJ, que inclusive já foi esclarecido pelo Rioprevidência em recurso apresentado à Corte de Contas.
Importante esclarecer ainda que à época das aplicações, o Banco Master S.A. detinha autorização de funcionamento emitida pelo Banco Central do Brasil, credenciamento ativo junto ao Ministério da Previdência Social e classificação de risco de crédito de “grau de investimento” — rating nacional de longo prazo “A-”, atribuído pela Fitch Ratings, atestando solidez financeira e a credibilidade institucional. As aplicações foram realizadas em conformidade com todos os regramentos vigentes à época e de acordo com o Plano Anual de Investimentos que foi aprovado pelo Conselho de Administração da Autarquia”.
Clima de cautela, mas pagamentos assegurados
Apesar das incertezas provocadas pela crise do Banco Master e pela recuperação judicial da Ambipar, a direção do Rioprevidência afirma que mantém sob controle sua capacidade de pagamento. A retirada antecipada de recursos e o reforço da Fazenda funcionam como garantias imediatas para atravessar o fim de ano sem atrasos.
A expectativa agora é acompanhar de perto as negociações com o interventor e a realocação dos fundos, enquanto o instituto tenta se blindar em meio a um cenário financeiro turbulento. Para os aposentados e pensionistas, porém, a promessa é clara: os pagamentos estão garantidos.
