Fonseca, em Niterói, ganha voz e memória em novo centro cultural
Cidade inaugura Centro Cultural Cauby Peixoto e fortalece vida artística no Fonseca; casarão restaurado marca novo capítulo para a Zona Norte
No sábado (22), dia em que Niterói celebrou 452 anos, a cidade ganhou um presente simbólico e histórico: a abertura do Centro Cultural Cauby Peixoto, no Fonseca. O espaço, instalado em um casarão centenário totalmente restaurado, é o primeiro equipamento público cultural da Zona Norte — região historicamente carente de investimentos culturais e que agora passa a ocupar um novo lugar no mapa cultural niteroiense.
O complexo já nasce com múltiplas funções. Além de abrigar exposições e espetáculos, terá salas destinadas a cursos, ensaios e encontros de coletivos artísticos, fortalecendo a circulação de saberes, a economia criativa e a convivência comunitária. Para muitos moradores, trata-se de uma reparação histórica: cultura e patrimônio chegando onde antes faltavam.
Durante a inauguração, o prefeito Rodrigo Neves fez questão de destacar o simbolismo do momento e o caráter coletivo da obra pública. “É uma alegria muito grande estar aqui com cada um e com cada uma de vocês. É uma alegria inaugurar este centro cultural nos 452 anos de Niterói. Este casarão estava há 40 anos abandonedado. A gente trabalhou uma concepção do projeto, que não era só restaurar a casa. Pedi um projeto que fosse mais que restauração. Que a gente pudesse ter o primeiro teatro municipal do Fonseca. Esse teatro tem 240 lugares e está lindo, com uma iluminação cênica fantástica. Queria agradecer a todos que trabalharam. O Cauby Peixoto nasceu em Niterói, passou uma parte da vida no Fonseca e ele deve estar muito feliz. A cultura é parte indissociável da cidade. Niterói é uma cidade vibrante e cultural. Esse casarão vai abrigar várias atividades e também ser um importante centro de memória sobre a Alameda São Boaventura, que vai viver uma grande transformação nos próximos anos. Essa obra representa a importância da continuidade das políticas públicas. Eu escolhi o local e fiz a desapropriação em 2019, o prefeito Axel (Grael) iniciou a construção e agora tenho a alegria de concluí-la. Foi tudo preparado com muito carinho para a população”, afirmou Rodrigo Neves.
Restauro, preservação e compromisso público
A transformação do imóvel histórico não se limitou ao resgate arquitetônico. O projeto foi elaborado com atenção ambiental, social e patrimonial: nenhuma árvore foi removida, os vitrais originais foram mantidos e todo o complexo — o casarão e o prédio anexo — foi adaptado para garantir acessibilidade. Os espaços incluem salas multiuso, ambientes de memória e um teatro com capacidade para 240 pessoas, que agora coloca o Fonseca no circuito cultural da cidade.
O centro também homenageia Cauby Peixoto, cantor niteroiense que cresceu no bairro e se tornou uma das vozes mais marcantes da música brasileira. Sua história e a própria trajetória do Fonseca ganharam espaço dentro do equipamento, reforçando a ideia de cultura como identidade e pertencimento.
Para o secretário municipal das Culturas, Leonardo Giordano, a inauguração representa um avanço estratégico na democratização do acesso cultural. “O Centro Cultural da Zona Norte é um símbolo do compromisso da Prefeitura com a democratização do acesso à cultura. É o primeiro equipamento público municipal da região e resultado de um esforço que envolveu escuta pública e planejamento. Niterói vive um dos maiores ciclos de investimentos em cultura de sua história, com recursos aplicados em infraestrutura, formação, editais e valorização dos nossos artistas e da diversidade cultural da cidade. A Prefeitura já recuperou prédios históricos como o Mercado Municipal e a Casa Norival de Freitas, e está oferecendo ao povo equipamentos de qualidade. O centro cultural é um encontro especial com o povo de Niterói e com o país, que vai saber que Cauby Peixoto é daqui”, ressaltou.
Família celebra memória preservada
A emoção também tomou conta de familiares do artista. “É uma emoção indescritível ver esse acervo agora disponível para toda a cidade. Cuidamos de tudo com muito zelo e hoje sentimos que ele ganha um novo sentido, ao alcançar tantas pessoas. É gratificante ver esse reconhecimento à memória e ao legado da nossa família.” declarou Magali Velasco, ao lado de Salmo Medeiros, outro sobrinho do artista, e da sobrinha neta de Cauby, Patrícia Velasco.
O carinho com o patrimônio, segundo a vice-prefeita Isabel Swan, também se refletiu nas escolhas ecológicas e estruturais do projeto. “O Centro Cultural Cauby Peixoto é um grande presente para a cidade. A gente sabe o trabalho que foi. Como vice-prefeita, fico feliz de fazer parte de um governo com uma caminhada tão bonita e que, efetivamente, mudou Niterói. Tenho muito orgulho de ser a primeira mulher vice-prefeita da cidade. A gente trabalha para servir à cidade. Esse equipamento foi feito com muito cuidado no restauro, em cada vitral, e de ter água recolhida de chuva e painéis solares. É um equipamento completo”, afirmou.
O ex-prefeito Axel Grael, responsável pelo início das obras, reforçou a importância de continuidade administrativa e planejamento público. “Hoje é um dia de muita celebração e de orgulho. Essa é uma entrega muito especial, que faz parte de um conjunto de intervenções nesses últimos 13 anos. Fui vice-prefeito do Rodrigo Neves, e depois prefeito. Tenho muito orgulho de ter podido fazer várias obras com um investimento muito elevado em recuperação do patrimônio cultural da nossa cidade. Parabéns a todos que se dedicaram para que isso aqui pudesse acontecer”, disse.
Três exposições inauguram a programação
A abertura do centro já começou com poesia, memória e múltiplas linguagens artísticas. Três mostras inauguraram os salões, incluindo “Azulejos de Memória”, que compõe a primeira exposição da Sala de Memória. O trabalho reconstrói, por meio de documentos, fotografias, vídeos, relatos e arquivos, a história afetiva do Fonseca — desde as primeiras ocupações indígenas até os processos de urbanização, industrialização, vida de bairro e cultura popular. Distribuída em dez núcleos, a mostra reafirma que a história de uma cidade não está apenas nos monumentos, mas nas pessoas.
Um futuro cultural mais plural
A inauguração do Centro Cultural Cauby Peixoto simboliza mais do que um novo endereço para eventos culturais. Representa um compromisso político — e histórico — de ampliar direitos culturais, descentralizar investimentos e reconhecer a Zona Norte como protagonista da vida urbana.
Num país onde a cultura tantas vezes sofre cortes, disputas ou abandono, Niterói faz um movimento na contramão: preserva, investe e compartilha. E, desta vez, coloca no centro da festa quem antes ficava à margem.
O Fonseca agradece — e celebra.
