Facções tomam o wi-fi, mercado e abastecem o crime com postos de gasolina no Rio
Com brechas na lei, CV e PCC se infiltram em setores legais como internet e combustíveis, lucrando bilhões sem largar o comando das ruas
Investigações recentes indicam que, além do tráfico de drogas e armas, as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) firmaram um acordo tácito para dominar mercados legais, como internet e combustíveis, aproveitando brechas na legislação. Enquanto o PCC avança no Rio com o comércio ilegal de derivados de petróleo, o CV consolidou seu monopólio sobre provedores de internet em comunidades.
Para operar na economia formal, os criminosos se valem de lacunas regulatórias. No caso da internet, empresas com até 5 mil clientes não precisam de autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), permitindo que o CV crie provedores clandestinos em nome de “laranjas”. Já o PCC atua no roubo de combustíveis de dutos, adulteração e venda em postos ilegais, muitas vezes como fachada para lavagem de dinheiro.
Facções atingem patamar de “máfias”, diz secretário
O secretário Nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, afirmou que essas organizações já podem ser classificadas como máfias devido à sua estrutura e influência. Ele destacou que o PCC prioriza o lucro com menos violência, enquanto o CV usa a intimidação para controlar territórios.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, defendeu a PEC da Segurança Pública, que propõe maior integração entre as polícias para combater o crime organizado em nível nacional.
Internet: o novo “negócio” do tráfico
Segundo o delegado Pedro Brasil, da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), o CV transformou a distribuição de internet em “a nova boca de fumo”, com empresas registradas em nome de parentes de criminosos. Em 2024, a polícia registrou 210 ocorrências relacionadas a fraudes no setor.
Combustível: mercado bilionário ilegal
Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela que o comércio ilegal de combustíveis movimentou R$ 61,5 bilhões em 2024, representando 41,8% da receita do crime organizado. O PCC tem forte atuação nesse ramo, com postos clandestinos e adulteração de produtos.
A Transpetro informou que reduziu em 90% os furtos em dutos nos últimos cinco anos, mas o problema persiste. Enquanto isso, especialistas alertam para a infiltração crescente das facções em setores legais, exigindo ações coordenadas entre governo e iniciativa privada.
