CVM acusa ex-diretores da Americanas de insider trading após descoberta de fraude contábil

A Comissão de Valores Imobiliários (CVM) concluiu um inquérito na sexta-feira (18) que acusa oito ex-executivos da varejista Americanas de utilizarem informação privilegiada para obter vantagens financeiras, prática conhecida como insider trading.

Entre os acusados estão Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, Marcio Cruz Meirelles e Anna Christina Ramos Saicali, que agora terão a chance de apresentar defesa.

A investigação da CVM centrou-se nas transações de ações realizadas antes que a empresa revelasse “inconsistências contábeis” em janeiro de 2023, que mais tarde se confirmaram como fraude, impactando profundamente a saúde financeira da companhia.

O escândalo contábil veio à tona no dia 11 de janeiro, quando a Americanas reportou irregularidades que somavam R$ 20 bilhões, levando à imediata renúncia do CEO Sergio Rial e do CFO André Covre.

A revelação das fraudes resultou em uma queda abrupta no valor das ações, que despencaram 77% no dia seguinte, de R$ 12 para R$ 2,72, eliminando R$ 8,34 bilhões em valor de mercado.

Em decorrência disso, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial em 19 de janeiro e foi excluída de 14 índices da B3, com as ações atingindo o valor de penny stocks a R$ 0,79 em maio.

Em uma tentativa de recuperação, a Americanas aprovou um agrupamento de ações na proporção de 100 para 1, efetivado a partir de 17 de julho.

Os problemas da Americanas foram atribuídos ao fato de que o “risco sacado não era lançado como dívida”, uma prática que permitiu à empresa mostrar uma posição de dívida muito abaixo do real.

Esse método, frequentemente usado por fornecedores para antecipar recebíveis, trouxe complicações financeiras adicionais para a empresa.

Além disso, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para investigar as irregularidades.

A Americanas reconheceu indícios de fraude em seus resultados financeiros, apontando a responsabilidade a ex-diretores, embora ainda não haja imputações formais aos responsáveis pelo déficit.

A CVM, em sua investigação, analisou documentos cadastrais de investidores, ordens de compra e venda de ações, além de notas de corretagem e realizou oitivas de investidores.

A investigação contou ainda com trocas de informações com a BSM, autorregulador da bolsa de valores, e coletou “elementos robustos, contundentes e convergentes” que fundamentam as acusações de insider trading contra os ex-diretores.

Atualmente, a CVM segue com dois Inquéritos Administrativos, dois Processos Administrativos Sancionadores e dez Processos Administrativos em andamento, enquanto outros 20 processos foram encerrados, refletindo o esforço contínuo para limpar as irregularidades do mercado financeiro brasileiro.