Corpo de João Donato será velado no Theatro Municipal do Rio

Cerimônia está marcada para esta terça-feira (18), das 11h às 15h

O corpo do multi-instrumentista, cantor e compositor João Donato, que morreu na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, será velado nesta terça-feira (18), das 11h às 15h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A cerimônia será aberta ao público. O artista será cremado no Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio, em cerimônia restrita aos familiares e amigos.

O músico morreu aos 88 anos, vítima de complicações pulmonares. Muitos artistas e políticos enalteceram a trajetória de João Donato, um dos grandes músicos brasileiros, que passou pela bossa-nova, conviveu com artistas do jazz norte-americano e deixa um verdadeiro legado para a música brasileira.

O crítico de música brasileira Rubem Confete, comentarista da Rádio Nacional, lembrou que João Donato nasceu no Acre e chegou ao Rio de Janeiro aos 11 anos de idade junto com a família. O pai era piloto da Força Aérea Brasileira (FAB) e foi transferido para o Rio no final dos anos 1940. Começou tocando acordeon dado pelo pai ainda no Norte do país. Passou pelo piano e muito cedo se notabilizou. A maneira de ele compor antes da bossa-nova foi notada por cantores e compositores da MPB.

De acordo com Confete, Donato ouvia as harmonias de Johnny Alf e passava para João Gilberto. Ele formavam “um trio incrível”. Ele teve encontros com músicos do Caribe, principalmente da Jamaica e de Cuba, e se notabilizou com seus acordes ao piano em jazz, chegando a participar de muitas apresentações de jazz nos Estados Unidos.

Confete contou ainda que, ao voltar para o Rio de Janeiro, João Donato foi redescoberto por Caetano Veloso e Gilberto Gil.

“Em 1977, nós participamos de um trabalho com o João Donato. Letras minhas e músicas do João, mas o nosso produtor, por motivos particulares, abandonou o long-play, mas nós marcamos presença com uma música Xangô é D’bá”, disse. “Com ele, não tinha tristeza. Para Donato, a vida era sempre uma festa”, enalteceu Confete.

O cantor, compositor e instrumentista Carlinhos Brown também destacou as habilidades do amigo. “João Donato é um gênio e fez com Gil uma paz invasora que inspira vários corações. Fez o não saber das bananeiras e com esse ritmo e melodia plantou nos pensamentos do Brasil um respeito maior ainda, as rítmicas que as canções promovem. Além de ser um dos maiores de todos os tempos, sempre oportunizou os novos e buscou uma forma de estar caminhando e dando rumo a tudo que o Brasil produz em música. Ele é meu parceiro e tivemos oportunidades de termos músicas nossas interpretadas por Emílio Santiago, Carlos Santana, Bebel Gilberto, Timbalada, entre outros”, destacou Carlinhos Brown.

“Fica a falta e a saudade de um grande companheiro, mas fica principalmente um legado responsável que nos acordes do piano brasileiro ganhou mudanças com Johnny Alf, com Tom Jobim e com o imortal João Donato. Que seu espírito seja celebrado pelos céus, assim como é a sua música na Terra. João, um grande homem. Um pequeno adendo, sinto ele não ter escutado a música que fiz para ele e Tom em vida, mas vou fazer ecoar no universo, onde os espíritos escutam as verdades com mais clareza”, completou.

Já a cantora e compositora Marisa Monte escreveu em sua rede social: “Muito triste com a partida do meu amigo e parceiro João Donato. Um homem sensível e único, criador de um estilo próprio com um piano diferente de tudo que já vi. Doce, preciso e profundo. Fica o silêncio e a saudade”.

O jornalista, historiador, crítico, radialista e musicólogo brasileiro Ricardo Cravo Albin é considerado um dos maiores pesquisadores da música popular brasileira. Sua maior obra é o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, com cerca de 7 mil verbetes e referência na área musical. De acordo com Albin, João Donato deixa a MPB desolada e órfã, na medida em que foi um grande pioneiro da bossa-nova. “A bossa-nova internacionalizou a música popular do Brasil no mundo inteiro e fez com que o nosso ritmo pudesse ser muito aceito e reverenciado no mundo inteiro.”

João Donato é um dos pilares desse movimento. “Ele era um pianista muito sofisticado e um compositor igualmente na mesma linha. O Donato quando se exibia tinha muito sucesso”, ressaltou.

Albin disse que João Donato, quando tocava, fazia isso com prazer. “Um prazer que se realçava na sua face radiosa de acreano. Ele, do Norte do Brasil, tinha toda essa alegria carioca, que é muito típica aqui do povo do Rio de Janeiro. Então ele era uma acreano carioca. Ele sempre tinha muito apreço pelas suas raízes do Acre. Portanto, é uma grande falta a morte de João Donato.”

Segundo o historiador, Donato deixa, sobretudo, uma mensagem de originalidade e de sofisticação. “Ele era contido, minimalista, era perfeccionista, isso tudo é uma grande originalidade”, descreveu.

O prefeito Eduardo Paes disse, pelas redes sociais, que Donato deixará saudades. Partiu João Donato, gigante da música brasileira. Nasceu em Rio Branco e veio ainda criança pro Rio de Janeiro, onde passou a vida. Eu sou de todos os rios, eu sou de igarapés, disse numa entrevista. Esse Rio vai sentir sua falta.”

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