Brasil e Itália priorizam interesses estruturais em meio a divergências ideológicas

Em meio às presidências do G20 e do G7 por Brasil e Itália, respectivamente, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, têm destacado a primazia dos interesses estruturais e complementares de ambos os países, apesar de suas divergências ideológicas.

Michele Valensise, ex-embaixador da Itália no Brasil, em entrevista à Folha de S.Paulo, comentou que a relação entre os dois países continua sólida e promissora.

Valensise, que serviu como embaixador em Brasília de 2004 a 2009 e como secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores italiano, observou que a abordagem pragmática adotada por Lula e Meloni evidencia que as afinidades políticas são menos significativas do que as necessidades bilaterais. “Nossos dois líderes, Lula e Meloni, têm plena consciência disso”, afirmou ele.

A colaboração entre Brasil e Itália foi evidenciada ao longo de 2023, com encontros estratégicos em eventos internacionais como o G20 e o G7.

Durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, os líderes realizaram uma reunião bilateral, na qual o presidente Lula enfatizou a necessidade de melhorias nos serviços prestados pela Enel em São Paulo, uma concessão italiana de distribuição de energia elétrica.

Apesar de críticas anteriores de Meloni, a relação institucional entre os dois líderes tem sido descrita como cordial.

A visita de Estado ao Brasil pelo presidente italiano Sergio Mattarella em julho também serviu para fortalecer os laços bilaterais, com Valensise destacando a integração das comunidades italianas e ítalo-descendentes no Brasil como um pilar estratégico para a dinâmica econômica entre os dois países.

Valensise abordou os desafios e as oportunidades na relação bilateral, notando que, embora Meloni mantenha relações com líderes como Donald Trump e Javier Milei, que possuem visões opostas às de Lula, isso não necessariamente afeta negativamente as relações Brasil-Itália.

Ele sugeriu que Meloni poderia desempenhar um papel diplomático significativo se conseguisse equilibrar os interesses europeus e internacionais.

Além disso, ele elogiou o pragmatismo e o compromisso de Lula com o multilateralismo na política externa, observando que o Brasil historicamente manteve relações equilibradas com os Estados Unidos, independentemente das inclinações políticas em Washington. A postura do Brasil frente a potências globais tem sido de equilíbrio e cooperação.

Finalmente, Valensise refletiu sobre o impacto potencial da eleição de Donald Trump nos EUA, sugerindo que a história diplomática entre Brasil e EUA, especialmente durante o primeiro mandato de Lula, indica que as relações podem continuar sendo pragmáticas e produtivas, apesar das mudanças no cenário político internacional.

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