Brasil e China anunciam parceria estratégica sem adesão à iniciativa Cinturão e Rota
Nesta quarta-feira (20), os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping, anunciarão em Brasília uma nova parceria de investimentos que não inclui uma adesão formal à Iniciativa Cinturão e Rota, conhecida globalmente como Rota da Seda.
Esta colaboração busca promover investimentos estratégicos e proteger o Brasil de potenciais desgastes geopolíticos.
A decisão de estabelecer um projeto de sinergias, evitando a adesão oficial à iniciativa chinesa, é um esforço do governo brasileiro para manter um equilíbrio nas relações com outras potências mundiais, como os Estados Unidos e a China.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência, declarou que o foco é em projetos que promovam essa sinergia, independentemente da nomenclatura empregada.
Desde a introdução da Belt and Road Initiative em 2013, a China conseguiu mobilizar mais de US$ 1 trilhão em investimentos em diversas regiões, incluindo Ásia, Europa, África e América Latina.
Embora 151 países tenham se juntado formalmente à iniciativa, o Brasil, ao lado de Colômbia e Paraguai, optou por manter uma posição independente.
A adesão ao projeto chinês poderia ser vista como uma submissão a normas políticas e acordos de confidencialidade, que são considerados incompatíveis com a legislação brasileira.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros expressaram preocupações sobre as implicações de uma adesão formal. Um embaixador, falando sob condição de anonimato, destacou a necessidade do Brasil calibrar suas atitudes para manter a credibilidade internacional.
A parceria Brasil-China abrange pelo menos 50 projetos bilaterais, focados principalmente em infraestrutura, tecnologia e inteligência artificial.
Destacam-se iniciativas como o desenvolvimento de combustível de aviação sustentável e a expansão de rotas de transporte que conectam o Brasil a seus vizinhos sul-americanos.
O Palácio do Planalto também propôs a criação de um fundo para a recuperação de pastagens degradadas, reforçando a agenda ambiental do governo.
Apesar das incertezas remanescentes sobre a venda de 20 aeronaves da Embraer para empresas chinesas, a expectativa é que esses projetos fortaleçam a relação bilateral e promovam um novo patamar de cooperação entre os dois países.
A diplomacia brasileira continua a enfrentar o desafio de equilibrar as relações com a China e os Estados Unidos, especialmente em um contexto de intensas disputas geopolíticas.
As autoridades norte-americanas expressaram preocupações sobre os riscos associados aos investimentos chineses, mencionando a possibilidade de uma “armadilha da dívida”. Em resposta, a embaixada chinesa classificou as críticas americanas como “irresponsáveis”.
A postura do Brasil de evitar alinhamento exclusivo com qualquer superpotência reafirma a tradição de não-alinhamento do país, como destacou o presidente Lula, enfatizando a importância de uma avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos envolvidos na parceria com a China.