Atlas da Escala 6×1 que denuncia exploração extrema do trabalho no Brasil é lançado na Flip
Pesquisa inédita revela que jovens negros da periferia são os mais afetados; 70% relatam estresse e 30% já apresentam sinais de Burnout
A intensificação da exploração da força de trabalho no Brasil ganhou, nesta sexta-feira (01/08), uma nova e contundente radiografia. Foi lançado, durante a 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o Atlas da Escala 6×1, uma pesquisa inédita que denuncia os impactos físicos, emocionais e sociais do modelo de jornada de trabalho que atinge milhões de brasileiros, especialmente nos setores de comércio e serviços.
O estudo revela que a jornada 6×1 recai de forma brutal sobre jovens negros periféricos, que enfrentam rotinas exaustivas com pouco ou nenhum tempo de recuperação física e mental. Segundo os dados, 70% dos trabalhadores relataram sintomas de estresse ocupacional, e mais de 30% já apresentam sinais claros da Síndrome de Burnout, caracterizada por esgotamento extremo, perda de sentido no trabalho e adoecimento psíquico.
O levantamento é resultado de uma parceria entre o Observatório do Estado Social Brasileiro, o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e a Associação Trama (Trabalho, Rede, Acompanhamento e Memória). A pesquisa ouviu mais de 3.700 trabalhadores, em 394 municípios de todas as regiões do país, e contou com o apoio de dezenas de movimentos sociais, consolidando-se como uma das maiores investigações já feitas sobre o cotidiano laboral brasileiro na contemporaneidade.
Combinando dados estatísticos, análises cartográficas, depoimentos e interpretações críticas, o Atlas denuncia a jornada 6×1 como expressão brutal da precarização do trabalho, aprofundada por reformas trabalhistas, desregulamentações e pela informalidade crescente.
O lançamento contou com a presença de importantes lideranças sindicais, políticas e acadêmicas. Entre elas, o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e coordenador executivo da Trama, Márcio Ayer; o geógrafo Tadeu Arrais, professor da UFG e coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro; o sociólogo Rodrigo Ribeiro; a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ), que preside a Comissão de Trabalho da Alerj; a dirigente da CTB Katia Branco; e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Para Dani Balbi, o Atlas revela de forma incontornável o que os trabalhadores sentem na pele diariamente:
“Esse estudo dá rosto, voz e estatísticas àquilo que sempre denunciamos: o modelo 6×1 é uma engrenagem de moer gente. Precisamos reverter essa lógica e recolocar o trabalho digno no centro da política pública e da legislação trabalhista.”
O Atlas, segundo os organizadores, é uma ferramenta de luta. Ele será apresentado a sindicatos, parlamentares, órgãos públicos e movimentos sociais em diferentes estados, como base para campanhas por regulamentação da jornada, direito ao descanso, e reconhecimento dos danos causados pelo atual modelo de exploração.
