Americanas: “É preciso punir os culpados e proteger os empregos”, diz Marcio Ayer

Presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Marcio Ayer defende punição dos executivos da empresa.

A crise das Lojas Americanas chegou até mesmo no Congresso Nacional. Mas é nas ruas que a fraude cometida pela empresa mais será sentida.

As investigações mostram que o rombo fiscal já ultrapassa R$ 40 bilhões. De acordo com o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer, o valor é tão absurdo que se aproxima do orçamento anual da cidade do Rio de Janeiro.

Ayer cita o exemplo da Ricardo Eletro, que chegou a ter mais de 1.200 lojas físicas e 28 mil trabalhadores no País. Em 2020, quando a rede varejista entrou em recuperação judicial, em meio à pandemia de Covid-19, todas as lojas foram fechadas – o que levou a uma demissão em massa. “Até hoje, os milhares de trabalhadores demitidos não receberam as verbas rescisórias”, afirma. “Esta é a regra até aqui: as redes fecham operações e abrem falência, mas não pagam tudo a que os trabalhadores têm direito.”

“Mudar o paradigma”

Para Ayer, “é preciso punir os culpados e proteger os empregos”. A CPI na Câmara pode ajudar a “mudar a regra”, em benefício dos trabalhadores comerciários.  “Os grandes empresários – que provocam essas crises – nunca são punidos. Se a CPI tiver efetividade para culpabilizá-los, podemos projetar um cenário em que esses empresários tenham muito mais responsabilidade.”

A primeira unidade das Americanas foi inaugurada em 1929, no Rio. Passados 94 anos, a Americanas S.A se converteu num dos maiores grupos varejistas da América Latina. Entre as principais marcas da rede, espalhadas por todas as regiões do País, estão as Lojas Americanas, as Americanas.com, o Submarino e o Shoptime. Apenas nas pouco mais de 1.700 lojas físicas, a companhia emprega 44 mil funcionários. Qual será o futuro deles?

Em resposta à crise, a companhia começa a fechar operações, especialmente no e-commerce (comércio eletrônico). Segundo o Sindicato dos Comerciários do Rio – que faz a homologação de todos os trabalhadores com mais de um ano no setor –, a base registra 260 demissões nas Americanas apenas neste ano. Graças à atuação do movimento sindical, as verbas rescisórias têm sido pagas.

A conta da crise

Desde março, as Americanas estão em recuperação judicial. A crer na lista “oficial”, suas dívidas chegam a R$ 41,2 bilhões junto a 7.967 credores (pessoas físicas e jurídicas). De acordo com o movimento sindical, há 17 mil ações trabalhistas em curso contra a empresa. Juntas, essas ações cobram das Americanas um total de R$ 1,53 bilhão.

Uma ação civil pública movida por oito entidades sindicais pede justamente o bloqueio de R$ 1,53 bilhão em bens dos três acionistas de referência da empresa – os multibilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. “As dívidas trabalhistas representam um percentual pequeno da dívida total das Americanas. Os trabalhadores não podem pagar a conta dessa crise”, afirma Márcio Ayer.

O presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro aposta que as Americanas “têm condições de se recuperar”. Um de seus acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, é nada menos que o homem mais rico do Brasil, conforme levantamento da revista Forbes. Em março, seu patrimônio foi estimado em R$ 86,1 bilhões.

“Quem lê o relatório da segunda-feira percebe um esforço de blindar o Conselho de Administração, especialmente os três acionistas”, denuncia Ayer. “O desmanche já começou, as demissões começaram, mas não creio que as Americanas vão acabar.  Eu diria que os executivos estão ‘matando os filhos para salvar as mães’.”

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