Conheça Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj preso por vazar informações sigilosas
A repetição de prisões no comando da Alerj expõe padrões que desgastam a confiança pública e reforçam a urgência de reformas institucionais mais profundas
A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, nesta quarta-feira (3), marca mais um episódio turbulento na história política fluminense. Suspeito de ter vazado informações sigilosas da operação que resultou na prisão do deputado Thiego Raimundo dos Santos, o TH Jóias, Bacellar se torna o segundo presidente da Casa detido durante o exercício do mandato — um fato que escancara a persistência de velhas práticas no estado e reforça a urgência de uma agenda pública mais comprometida com transparência e controle institucional.
Um político de carreira acelerada
Antes de ocupar o comando da Alerj, Bacellar trilhou uma trajetória rápida dentro da política estadual. Ele foi secretário de Estado no governo do Rio e entrou de vez no Parlamento em 2018, quando se elegeu deputado estadual pelo Solidariedade, conquistando 26.135 votos. Sua projeção cresceu de forma expressiva, impulsionada por alianças e pela capacidade de transitar com desenvoltura entre diferentes grupos políticos.
Em 2022, já integrando o PL, Bacellar ampliou sua base eleitoral e se reelegeu com 97.822 votos, consolidando sua presença como uma das figuras mais influentes da Assembleia. Esse fortalecimento culminou em sua eleição — e posterior reeleição — para a presidência da Casa. Em 2025, ele foi reconduzido ao comando da Alerj por unanimidade, sinal de que seu nome havia se tornado praticamente incontestável nos bastidores legislativos.
Uma repetição incômoda na Alerj
Apesar do discurso institucional que frequentemente tenta desvincular a Casa de escândalos, a prisão de Bacellar reabre feridas recentes. Ele é o segundo presidente da Alerj a ser preso enquanto ocupava o cargo. Em 2017, o então presidente Jorge Picciani foi detido na Operação Cadeia Velha, reforçando um padrão que, para muitos moradores do Rio, já não surpreende — mas cansa profundamente.
A nova prisão joga luz sobre um ambiente político que, longe de ser exceção, parece repetir estruturas que favorecem a influência de interesses pessoais sobre responsabilidades públicas. Para setores progressistas, o caso evidencia a necessidade de fortalecer mecanismos de fiscalização e evitar que cargos estratégicos se transformem em fortalezas de autoproteção.
O impacto da suspeita de vazamento
O cerco se fechou após a suspeita de que Bacellar teria compartilhado informações sigilosas da operação que prendeu TH Jóias, abrindo espaço para a interferência em investigações que envolvem acusações de corrupção e vínculos com o crime organizado. Em um estado historicamente marcado por alianças nebulosas, a notícia de que o próprio chefe do Legislativo poderia ter atuado para proteger aliados levanta questionamentos graves sobre o funcionamento das instituições.
Embora o processo ainda siga sob investigação, a detenção de Bacellar reacende debates que há tempos circulam entre especialistas, servidores públicos e movimentos sociais: até quando o Rio de Janeiro permanecerá refém de práticas políticas que enfraquecem a confiança da população e travam a construção de um estado mais justo e democrático?
A resposta, como sempre, dependerá da capacidade das instituições de atuar com independência — e da pressão contínua de uma sociedade que não aceita mais assistir passivamente ao uso do poder público como espaço de privilégio e proteção.
