Rio projeta salto logístico com R$50 bi até 2030
Com R$50 bilhões previstos, o Rio aposta em obras que vão de portos a concessões rodoviárias, redesenhando seu peso nas cadeias de exportação e energia
A infraestrutura logística do Rio de Janeiro está prestes a passar por uma das maiores ondas de investimento de sua história recente. Até 2030, o estado deve receber R$50 bilhões — o equivalente a US$9,2 bilhões — em projetos que englobam rodovias, portos e ferrovias de carga. O levantamento, realizado pela estatal Infra S.A., reúne iniciativas públicas e privadas que, segundo especialistas, podem redefinir o papel do Rio nas cadeias de exportação e energia do país.
Embora o potencial econômico seja expressivo, o volume de recursos também reacende debates sobre planejamento estatal, soberania logística e a necessidade de garantir que tais investimentos não reforcem desigualdades territoriais. Para o presidente da Infra S.A., Jorge Bastos, o peso estratégico do estado é incontestável. “Mais de 70% das exportações do Rio de Janeiro são de petróleo e derivados, escoados sobretudo pelos portos fluminenses. O estado é chave para o suprimento energético e para cadeias como mineração e siderurgia, o que demanda logística integrada e acessos eficientes entre rodovias, ferrovias, dutos e portos”, afirmou em comunicado.
Projetos no Porto de Itaguaí e uma nova estrutura para minério
Entre os empreendimentos previstos, um dos mais relevantes é a construção de um novo terminal no porto de Itaguaí, voltado ao escoamento de minério de ferro. O investimento estimado é de R$3,53 bilhões. A Cedro Mineração, que venceu o leilão do terminal ITG02 em dezembro de 2024, terá um contrato de 35 anos para desenvolver a área, incluindo a construção de um píer. O espaço fica próximo a instalações usadas por grandes players como Vale e CSN.
Segundo José Carlos Martins, membro do conselho da Cedro, as obras devem começar já entre março e abril do próximo ano. “Já temos empresas selecionadas para a preparação do projeto e parte da engenharia detalhada, mas ainda não contratamos a empresa de engenharia principal. A etapa de geotecnia e estudos de maré está em andamento”, explicou à BNamericas.
Martins reforçou que a empresa busca parceiros para dividir os aportes financeiros. “Já temos um empréstimo do Fundo da Marinha Mercante, mas ainda assim precisamos de sócios estratégicos. Há empresas de trading interessadas. O porto permite uma capacidade competitiva. Hoje dependemos de portos de terceiros, o que exige contratar navio e lidar com limitações logísticas”, afirmou.
Macaé também deve receber aportes robustos
Outro destaque portuário é o Terminal Portuário de Macaé (TEPOR), que, segundo a Infra S.A., pode receber cerca de R$9 bilhões em investimentos nos próximos anos. O projeto reforça a expansão logística em uma região já marcada pela presença da indústria do petróleo, fortalecendo a importância do norte fluminense no mapa energético nacional.
Concessões rodoviárias avançam com bilhões previstos
A malha rodoviária do estado também será impactada. O programa de concessões do Ministério dos Transportes tem impulsionado obras e contratos que prometem modernização e manutenção de trechos essenciais.
Em abril, o consórcio Nova Estrada Real — que reúne Construcap, Sociedad Anónima de Servicios Copasa e OHL Concesiones — venceu o leilão da BR-040/495/MG/RJ, trecho de 220 km entre Juiz de Fora e o Rio. O contrato prevê investimentos de R$8,8 bilhões.
Meses depois, em novembro, a Arteris garantiu a concessão de 322 km da BR-101, da divisa com o Espírito Santo até o litoral fluminense, passando por treze municípios. A empresa foi a única interessada na disputa, que envolve aportes estimados em R$6,2 bilhões.
Renovação ferroviária e o peso da Malha Sudeste
No setor ferroviário, a Infra S.A. destacou a renovação da concessão da Malha Sudeste, operada pela MRS Logística. São mais de 1.600 km de trilhos que conectam Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo — um corredor essencial para o transporte de cargas pesadas no Sudeste. O contrato, que venceria no fim deste ano, foi prorrogado até 2056, com novas obrigações de investimento assumidas pela concessionária.
O conjunto de projetos mostra que o Rio deve voltar a ocupar um espaço central na infraestrutura nacional. Mas também evidencia a importância de vigilância pública e participação social para que os benefícios — empregos, dinamização econômica e reforço na competitividade — não se concentrem em poucos setores e grupos econômicos. Em um estado marcado por contrastes, a logística pode ser ponte para desenvolvimento, desde que acompanhada de políticas que priorizem inclusão e sustentabilidade.
