Trilhos ganham força no redesenho do transporte carioca
Com a sanção do prefeito Eduardo Paes, o Rio autoriza a implantação de VLTs ou VLPs via PPP, substituindo linhas do BRT e abrindo espaço para um sistema mais estável e moderno
O Rio de Janeiro deu mais um passo rumo à modernização de sua infraestrutura de transporte ao sancionar a lei que permite a implantação de um sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT) por meio de uma parceria público-privada (PPP). A decisão, publicada no Diário Oficial do município, foi assinada pelo prefeito Eduardo Paes e autoriza a substituição dos atuais corredores de ônibus articulados (BRT) por VLTs ou veículos leves sobre pneus (VLP) nas linhas Transcarioca e Transoeste.
A norma, já aprovada pela Câmara de Vereadores em agosto, aguardava apenas o aval do Executivo para começar a valer. Com a sanção, a prefeitura inicia um processo que pode redesenhar grandes eixos de deslocamento da cidade, marcados há anos por superlotação, falhas estruturais e falta de manutenção — problemas que impactam especialmente a população trabalhadora da Zona Oeste e da Zona Norte.
Apesar do avanço legislativo, o município ainda não divulgou cronograma oficial para a implementação das mudanças nem os valores de investimento que deverão ser assumidos pela PPP. A expectativa, contudo, é de que o novo modelo ofereça maior estabilidade operacional e reduza a dependência do sistema rodoviário tradicional.
Estudos apontam alto potencial de transformação
Um estudo recente do BNDES detalha o impacto que a conversão do BRT para VLT pode gerar nos principais corredores da capital. De acordo com o levantamento:
- A requalificação do BRT TransOeste resultaria em uma linha de 44,6 km, com investimento estimado em R$ 4,73 bilhões (US$ 875 milhões).
- A transformação do BRT TransCarioca geraria uma linha de 35,6 km, exigindo cerca de R$ 4,99 bilhões.
- Outro projeto considerado estratégico é o VLT Botafogo–Leblon–Gávea, que teria 10,4 km de extensão e demanda aproximada de R$ 1,1 bilhão.
Esses números revelam o tamanho da ambição e da necessidade de renovação dos corredores de transporte do Rio. O estudo reforça que a aposta em trilhos leves pode oferecer maior regularidade, conforto e eficiência energética, além de contribuir para a redução de emissões que afetam diretamente a saúde da população e o clima urbano.
Tendência nacional por sistemas de menor impacto ambiental
A aprovação da PPP acontece em sintonia com um movimento que se espalha por várias cidades brasileiras: o de substituir gradualmente os ônibus movidos a diesel por sistemas de transporte menos poluentes. Em meio ao agravamento da crise climática e ao aumento das exigências ambientais mundiais, governos locais têm buscado alternativas que unam mobilidade eficiente e sustentabilidade.
Os VLTs despontam como solução intermediária entre o transporte sobre pneus e os metrôs — custam menos para implantar, têm manutenção previsível e oferecem operação mais estável e silenciosa. Para uma cidade como o Rio, historicamente penalizada pela desigualdade territorial e pela dependência de modais saturados, a transição pode representar um respiro importante no cotidiano dos trabalhadores.
Com a sanção da lei, abre-se um novo capítulo no planejamento da mobilidade urbana carioca. Agora, resta acompanhar os próximos passos da prefeitura e os desdobramentos do projeto, que pode redefinir a forma como o Rio se move ao longo da próxima década.
