Megaprojeto transforma praça onze
Demolição do viaduto e abertura de novas vias visam recuperar ligações entre Centro, Estácio e Catumbi e restituir a fluidez perdida por décadas
A Prefeitura do Rio de Janeiro apresentou nesta quinta-feira (20) um dos mais ambiciosos projetos urbanos das últimas décadas: o Praça Onze Maravilha, um plano que promete transformar completamente uma área de 2,5 milhões de metros quadrados entre o Centro, Estácio, Catumbi e Cidade Nova. Com investimento estimado em R$ 1,75 bilhão, totalmente custeado pela iniciativa privada por meio de concessões, PPPs e instrumentos urbanísticos, o município aposta em uma reocupação intensa da região e na recuperação de um território profundamente simbólico para a história da cidade.
O anúncio foi feito justamente no Dia da Consciência Negra, reforçando o peso cultural e histórico da área que abriga a Praça Onze e a Pequena África — berços da cultura popular e da memória afro-brasileira.
Demolição do Viaduto 31 de Março e novo desenho urbano
O ponto mais emblemático do projeto é a demolição do Viaduto 31 de Março, que há décadas corta a região e, segundo a prefeitura, fragmenta as conexões entre Centro, Estácio e Catumbi. Inspirada na remoção da Perimetral, que abriu caminho para a revitalização da Zona Portuária, a derrubada da estrutura permitirá uma reconfiguração completa do entorno do Sambódromo e abrirá espaço para novas vias, áreas verdes, moradias e serviços públicos.
A proposta prevê a abertura de ruas, mudanças significativas no tráfego e até a construção de um mergulhão entre as ruas Frei Caneca e Salvador de Sá, sobre o qual surgirá uma nova praça. O objetivo é simplificar deslocamentos e recuperar ligações urbanas que foram interrompidas com a construção do antigo viaduto.
No entorno da Marquês de Sapucaí, as calçadas serão ampliadas, a iluminação reforçada e novas áreas verdes serão implantadas. O Sambódromo permanece, mas com acessos modernizados e melhor infraestrutura tanto para o Carnaval quanto para o uso cotidiano.
O projeto inclui ainda a reocupação de áreas hoje subutilizadas, onde surgirão novas edificações residenciais, além de comércio e serviços no térreo, para incentivar o fluxo diário de moradores e visitantes.
Biblioteca dos Saberes: novo ícone cultural do Rio
Um dos destaques mais aguardados é a criação da Biblioteca dos Saberes, concebida pelo arquiteto Diébédo Francis Kéré, ganhador do Prêmio Pritzker — o “Nobel” da arquitetura. Com mais de 40 mil m², o edifício será construído no local onde hoje funciona o Terreirão do Samba, ao lado do monumento a Zumbi dos Palmares, conectando-se diretamente à dinâmica cultural da Pequena África.
Com pilotis, cobogós, jardins suspensos e uma torre circular banhada por luz natural, a biblioteca reunirá salas de estudo, áreas expositivas, teatro, anfiteatro, cozinhas, espaços dedicados à memória e ao patrimônio e ambientes voltados às expressões populares.
A prefeitura avalia que a Biblioteca dos Saberes será um dos principais legados do programa Rio Capital Mundial do Livro, fortalecendo redes colaborativas com bibliotecas públicas e comunitárias e inaugurando novos modelos de mediação cultural na cidade.
Nova área de moradias: mais de 100 mil moradores em potencial
A Prefeitura enviará à Câmara Municipal um projeto de lei para instituir a Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) Praça Onze Maravilha, abrangendo 2,5 milhões de m² nos bairros Catumbi, Estácio, Cidade Nova e Praça Onze.
O plano prevê a construção de 37,5 mil unidades residenciais ao longo de 25 anos, com capacidade para atrair mais de 100 mil novos moradores. A modelagem econômica inclui:
- concessões,
- parcerias público-privadas (PPPs),
- venda de potencial construtivo,
- pagamento de outorga onerosa,
- criação de um fundo imobiliário com imóveis públicos.
O município afirma que o tema será discutido em audiência pública ainda este ano e que o projeto deve ser enviado ao Legislativo até dezembro.
Ligação com o Porto Maravilha: ilha flutuante amplia o corredor cultural
O Praça Onze Maravilha se integra às intervenções já em andamento na área portuária, onde será instalada a primeira ilha flutuante do Parque do Porto, próxima ao Museu do Amanhã. Com mais de 16,8 mil m², a estrutura contará com:
- praça gastronômica,
- quiosques e restaurantes,
- arena para eventos,
- jardim escultório,
- parque lúdico,
- marina,
- deck flutuante.
A prefeitura destaca que esse conjunto de ações reforça o corredor cultural e ambiental que liga o Cais do Valongo, a Pedra do Sal, a Praça Onze e o Sambódromo.

Um novo eixo de mobilidade, cultura e moradia
Ao lançar o Praça Onze Maravilha, o município se propõe a transformar uma região marcada por cicatrizes urbanas em um polo de mobilidade, habitação, cultura e convivência. A expectativa é que o resgate da vida residencial no Centro, aliado à criação de equipamentos públicos e culturais de grande porte, devolva vitalidade ao coração histórico do Rio.
Segundo a prefeitura, a reconstrução desse território não é apenas uma obra física, mas uma oportunidade de reconectar a cidade com suas raízes, revitalizar áreas degradadas e estimular um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social — sem perder de vista a memória de um lugar que sempre pulsou cultura, ancestralidade e resistência.
