Lula reage ao caos no Rio de Janeiro
A disputa de narrativas expõe contradições: blindados pedidos em janeiro viram argumento político, mas não têm relação com a tragédia desta semana
Brasília amanhece em estado de alerta nesta quarta-feira (29), um dia após o Rio de Janeiro ser palco de um verdadeiro banho de sangue. A “operação policial mais letal da história do RJ”, que mirou a facção criminosa Comando Vermelho (CV) e deixou um rastro de pelo menos 64 mortos, mergulhou o estado em um cenário de caos.
Enquanto a população fluminense ainda processa a tragédia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne com seus ministros para alinhar as ações do governo federal. A crise, no entanto, expôs o abismo político entre o Planalto e a gestão de Cláudio Castro (PL) no Rio.
Ação imediata em Brasília
O presidente Lula estava em voo, retornando de uma viagem de uma semana pela Ásia, exatamente quando a “guerra entre polícia e traficantes provocou caos no estado fluminense”. Mal desembarcou em Brasília, na noite de terça-feira (28), Lula falou por telefone com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ainda na base aérea, para ser atualizado sobre a dimensão da crise de segurança.
A mobilização federal, contudo, começou antes mesmo de sua chegada. Durante a tarde, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que estava como presidente em exercício, já havia convocado uma reunião com ministros para definirem uma “primeira linha de ação” no âmbito federal.
O jogo de empurra de Cláudio Castro
Enquanto o governo federal se mobilizava, o governador Cláudio Castro (PL) e o Planalto “trocaram acusações”. Em uma entrevista coletiva marcada pela tensão, Castro tentou se isentar da responsabilidade pela falha estrutural da segurança pública estadual, afirmando que estava “sozinho” no combate ao crime.
Em sua fala, o governador do PL alegou uma suposta falta de ajuda da União, afirmando que, “em diversas vezes ao longo do ano”, solicitou empréstimos de veículos blindados das Forças Armadas, sem sucesso.
A resposta de Brasília foi imediata e dura. Segundo o colunista do g1 Gerson Camarotti, o ministro Rui Costa ligou duas vezes para Cláudio Castro para “cobrar esclarecimentos” sobre as declarações. O ministro da Casa Civil foi enfático: o governo federal nunca recebeu por parte do governo do RJ qualquer pedido de GLO (Garantia da Lei e Ordem).
A verdade sobre os blindados
Para desmentir de vez a narrativa de Castro, o Ministério da Defesa emitiu uma nota detalhando os fatos. O governo do Rio de Janeiro, de fato, pediu às Forças Armadas o fornecimento de veículos blindados, mas isso ocorreu em janeiro deste ano, e por um motivo completamente diferente.
A solicitação foi focada estritamente na segurança da área do Hospital Naval Marcílio Dias, após a morte de uma militar da Marinha no local, e visava proteger os militares que ali circulam. O Ministério da Defesa fez questão de sublinhar que a medida “não tinha relação com a megaoperação policial desta terça-feira.”
Intervenção federal e o dia seguinte
Apesar da tentativa de Castro de politizar a tragédia, o governo federal atendeu às demandas concretas. O governador pediu dez vagas em presídios federais de segurança máxima para transferir lideranças criminosas, e recebeu autorização imediata.
Paralelamente à reunião de Lula em Brasília nesta quarta-feira (29), uma comitiva federal de peso desembarca no Rio. Os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) e Rui Costa (Casa Civil), acompanhados pelo diretor-executivo da Polícia Federal, William Murad, têm a missão de sentar com o governo local para, finalmente, discutir “ações conjuntas de inteligência” e tentar encontrar uma saída para a espiral de violência que castiga o povo fluminense.
