Observatório das Metrópoles discute desenvolvimento Urbano sustentável

No evento, Elias Jabbour defendeu o socialismo e tratou dos caminhos para o desenvolvimento urbano no Brasil

Cerca de 100 integrantes dos 21 Núcleos Regionais do INCT Observatório das Metrópoles estiveram reunidos no Seminário Nacional da rede nesta quinta-feira (31/08). Com o tema, “Transformações da Ordem Urbana e Estratégias de Desenvolvimento Urbano Inclusivo, Igualitário, Democrático e Ambientalmente Sustentável”, o evento ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 28 e 31 de julho.

Entre os participantes do evento, esteve o professor Elias Jabbour, presidente do Instituto Pereira Passos (IPP). Jabbour defendeu a centralidade do planejamento estatal para o desenvolvimento urbano no Brasil. Inspirando-se na experiência chinesa, Jabbour destacou que a superação das contradições que travam o crescimento nacional só será possível por meio de um projeto de desenvolvimento articulado entre economia, território e povo. “A América Latina vive ciclos recorrentes de fracasso econômico. No Brasil, abandonamos a formulação de políticas de desenvolvimento industrial. Isso é sintoma de um problema mais profundo: a industrialização sem reforma agrária comprometeu nosso desenvolvimento urbano e nos legou contradições crescentes”, afirmou.

O socialismo chinês

Jabbour chamou atenção para o modelo chinês de revolução urbana, que foi financiado pelo Estado e estruturado com base em uma visão de longo prazo. Para ele, o Brasil precisa retomar o caminho da reindustrialização e encarar o planejamento econômico como instrumento para promover reformas urbanas voltadas aos interesses populares.

“O problema urbano no Brasil é que o país parou de crescer. Precisamos de um novo pacto que coloque a razão – e não apenas o lucro – como critério de custo-benefício. Isso significa reforçar o papel da ciência e da planificação, pensando no bem coletivo”, disse.

Na avaliação do economista, a construção de um novo modelo urbano passa, também, pela redefinição da relação entre ser humano e natureza. “Estamos diante do esgotamento de uma era baseada na lógica destrutiva. Precisamos de uma nova simbiose entre sociedade e meio ambiente”, concluiu.

O professor da UFRJ, Carlos Eduardo Martins, também participou do seminário. “É fundamental situar o capitalismo contemporâneo na história. Há um período de acumulação primitiva, depois uma revolução científico-técnica, e isso gera contradições”, afirmou. Para ele, uma forma de contradição é a financeirização, gerando o capital fictício, que não é produzido nas relações de trabalho, mas depende do emprego do monopólio da força de trabalho da população. “Há um movimento de substituição da força de trabalho e, para reduzir os custos de produção nos países centrais, o resultado é a superexploração do trabalhador. É a vitória do capital sobre os trabalhadores e o declínio produtivo no âmbito da divisão internacional do trabalho”, explicou.

A desindustrialização do Brasil

De acordo com Martins, a partir do golpe de 1964, o Brasil manteve uma estrutura econômica concentrada no monopólio da terra pelo agronegócio, e começou a financeirizar a economia para transferir valor e manter uma reserva fora do país. “A burguesia se financeirizou de forma brutal e o Brasil é o principal caso de desindustrialização do mundo”, ponderou. Segundo ele, com a revolução e criação de um paradigma tecnológico, exigindo dinâmica de extração de recursos naturais, as terras raras estão sendo disputadas no mundo. “Se o extrativismo se coloca como necessidade, a reprimarização é uma forma de se inserir nesse mundo de maneira específica, e certamente é o objetivo dos EUA com os países da América Latina para que possa enfrentar o novo poder emergente”, observou Martins.

O evento contou com a participação de pesquisadores, gestores públicos e representantes da sociedade civil e faz parte de uma série de encontros que discutem os desafios e possibilidades para as metrópoles brasileiras.

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