Justiça suspende norma do CFM que restringia atendimento médico a pessoas trans

A norma já havia sido criticada pela Comissão de Trabalho da Alerj presidida pela deputada Dani Balbi (PCdoB)

A Justiça Federal no Acre suspendeu provisoriamente a Resolução nº 2.427/2025 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que impunha uma série de restrições ao atendimento médico de pessoas trans no Brasil. A medida atende a uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e representa uma vitória para entidades e ativistas dos direitos humanos e da diversidade de gênero.

A norma, publicada em abril deste ano, proibia o uso de bloqueadores hormonais em crianças e adolescentes trans, vetava o início da terapia hormonal antes dos 18 anos e aumentava para 21 anos a idade mínima para cirurgias com efeitos esterilizantes. O texto também previa a criação de um cadastro nacional com os dados de pacientes trans atendidos, medida criticada por especialistas por violar direitos à privacidade e à autodeterminação.

Segundo a decisão da Justiça, a resolução foi elaborada sem diálogo com representantes da sociedade civil, pesquisadores e outras especialidades médicas e sociais — diferentemente da Resolução nº 2.265/2019, que havia sido construída de forma mais ampla e participativa. A ausência desse debate plural foi considerada um “vício procedimental” na formulação da norma.

O juiz responsável pela liminar destacou ainda três fundamentos centrais para a suspensão da regra:

  • o direito à saúde e à autodeterminação dos indivíduos, que devem ser livres para decidir sobre seus próprios corpos;
  • o dever do Estado de adotar políticas baseadas em evidências científicas, conforme reiterado pelo Supremo Tribunal Federal (STF);
  • e o princípio da razoabilidade, que exige que qualquer limitação à liberdade individual esteja devidamente justificada e embasada em processo legal substancial.

Repercussão na Alerj

A medida do CFM também repercutiu no Rio de Janeiro. Em maio, a Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) promoveu uma audiência pública para discutir os impactos da resolução no direito ao trabalho e à educação de pessoas trans.

A deputada estadual Dani Balbi (PCdoB), presidente da comissão, afirmou que a norma “causa prejuízo extremo” à população trans, ampliando a exclusão social e dificultando o acesso à saúde e ao reconhecimento de identidades de gênero.

“Ao dificultar o acesso à saúde e ao reconhecimento de suas identidades, o Estado aprofunda a exclusão e empurra essas pessoas ainda mais para a marginalização. Isso impacta diretamente a possibilidade de uma vida digna, com emprego, renda e cidadania”, declarou Balbi.

Durante a audiência, representantes de movimentos conservadores tentaram impedir a realização do debate, mas os trabalhos da comissão prosseguiram. Entre os encaminhamentos, foi proposta a produção de um relatório sobre os efeitos da resolução e a solicitação de uma audiência formal com o CFM.

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