Ex-vereador Zico Bacana, testemunha no caso Marielle Franco, é assassinado no Rio

A violência urbana no Rio de Janeiro atingiu um novo patamar de crueldade nesta segunda-feira (7), quando o ex-vereador Jair Barbosa Tavares, conhecido como Zico Bacana, e seu irmão, Jorge Tavares, foram mortos a tiros em uma padaria em Guadalupe, Zona Norte do Rio. Contudo, um fato que chocou ainda mais a opinião pública é que Zico Bacana era uma testemunha-chave nas investigações do emblemático caso Marielle Franco.

O ex-vereador, que já havia sido alvo de uma tentativa de assassinato em 2020, foi atingido na cabeça por disparos feitos por ocupantes de um carro que passou em frente à padaria, ceifando sua vida instantaneamente. Socorrido ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, Zico Bacana não resistiu aos ferimentos, assim como seu irmão, que também foi alvo da ação criminosa.

Zico Bacana, que foi vereador entre 2017 e 2020 pelo PHS e concorreu como suplente pelo Podemos no último pleito, não era estranho à violência e já havia sido alvo de uma tentativa de assassinato em novembro de 2020. Naquela ocasião, o ex-vereador revelou que foi baleado de raspão na cabeça enquanto estava em um bar em Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte, após um dia de campanha.

Curiosamente, horas antes do atentado, Zico Bacana compartilhou em sua conta no Instagram uma série de stories mostrando sua presença nas ruas de Guadalupe, correndo e visitando obras da prefeitura, como se nada pudesse prever o trágico desfecho.

A tragédia ganha contornos ainda mais sombrios quando lembramos que Zico Bacana era conhecido não apenas por sua atuação política, mas também por seu papel crucial nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Em 2018, o ex-vereador foi ouvido como testemunha nas investigações do caso, fornecendo informações valiosas para a CPI das Milícias.

De acordo com denúncias que chegaram à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) durante a CPI das milícias, Zico Bacana exercia controle sobre uma milícia na comunidade Eternit, em Guadalupe, além de ter supostas ligações com a milícia da Palmeirinha, em Honório Gurgel, sob a alegada liderança do também policial militar Fabrício Fernandes Mirra, conhecido como “Mirra”.

Apesar das acusações e das suspeitas, Zico Bacana nunca foi condenado por crimes relacionados a atividades milicianas. Sua morte, entretanto, ressalta os desafios enfrentados pelas comunidades cariocas, que continuam a lidar com a violência urbana e a presença de grupos criminosos, em especial as milícias, que atuam à margem da lei.

Durante seu depoimento, Zico Bacana reiterou sua consternação com a morte de Marielle e fez um apelo para que a população cooperasse com as autoridades, fornecendo informações que pudessem ajudar a esclarecer o crime brutal. Ele defendeu veementemente a conduta da vereadora e ressaltou que as ações criminosas contra policiais militares e membros da comunidade eram inaceitáveis.

As denúncias que chegaram à CPI das Milícias apontaram que Zico Bacana era citado como suposto chefe de uma milícia atuante em Guadalupe e Ricardo de Albuquerque. No entanto, vale lembrar que ele nunca foi condenado por envolvimento em atividades milicianas.

A morte do ex-vereador e sua ligação com o caso Marielle Franco lançam uma nova sombra de incertezas sobre as investigações em andamento, e as autoridades deverão redobrar seus esforços para apurar o ataque violento e encontrar os responsáveis por mais essa tragédia no Rio de Janeiro.